Publicado em: 20/09/2021 20:07:31
Texto da Professora Walterlina Brasil, registra 19 de setembro de 2021 na UNIR Centro, alusivo as comemorações do centenário de Paulo Freire
Em novembro de 2020, durante a reunião ordinária do Conselho de Núcleo de Ciências Humanas a direção levou aos Departamentos a proposta do Projeto de Extensão “Paulo Freire 100! ”. A discussão foi breve e o acolhimento foi unânime. O projeto pretende estabelecer um marco sobre a presença do educador na Universidade Federal de Rondônia (nossa “universidade-verbo”) e cada um dos representados no Conselho vem mês a mês se mobilizando. Todas as atividades são praticamente virtuais[1]. Porém, para o mês de setembro foi do Departamento de Ciências da Educação que oferece o Curso de Pedagogia e os Programas institucionais de pós-graduação em Educação da UNIR. Sou testemunha que foi aleatório..., mas que trapaceiro este destino.
Por uma ação que fluiu dos diálogos interdepartamentais do NCH e fora dele, vários outros movimentos para celebração do Ano dedicado a Paulo Freire convergiram neste dia 19 de setembro em uma iniciativa presencial, frente a UNIR Centro. Uma programação singela pretendia fazer um brevíssimo encontro de memória institucional para honrar nossos antepassados, nos emocionar com nossas despedidas sem despedidas e esperançar (com bem diria Paulo Freire) para nosso futuro. E deu tudo certo! Até os imprevistos contribuíram para dar tudo certo! Estudantes e técnicos do Núcleo se esmeraram para que o local ficasse adequado e acolhedor. E conseguiram.
No início da atividade, todos os presentes celebraram com as danças circulares![2] Que abriram a porta com a chave “da experiência de pertencimento, acolhimento, conexão consigo e com o grupo, alegria e plenitude ”. As cirandas escolhidas fizeram menção a obra freireana... e todos os representados estavam lá: espiritualistas, inter-religiosos e agnósticos... dançando! Em seguida, demonstrando aproximação para com a diversidade os evangélicos da congregação Assembleia de Deus, apresentaram aos presentes o desafio Cristão da fé em tempos tão difíceis. Em seguida, a fala pela comunidade judaica, chamando atenção para a liberdade como o grande convite freireano e desejando feliz ano judaico que já passam de cinco mil (5.782 no ano hebraico). Seguiu-se uma saudação do Terreiro de Santa Bárbara, que usando o dialeto próprio trouxe a memória das práticas das matrizes africanas e indígenas. Ao final uma saudação pela comunidade anglicana, que nos chamou para a necessidade de reforçar, sempre, o louvor à diversidade.
Havia na programação um vídeo com a mensagem em memória da nossa decana Ana Maria, gravada por ela e disponível para o público no canal do YouTube em julho de 2020, mas não foi possível. Ela era conselheira na organização Centro Espirita Beneficente da União do Vegetal e encerraria essa parte da noite... Mas essa querida preferiu ficar neste texto e matar a saudade aqui: https://www.youtube.com/watch?v=yWlYV8XQshI&feature=emb_imp_woyt&ab_channel=BlogdaUDV
A palavra esteve com o Departamento de Ciências da Educação, seguida pela representação estudantil. Então, a bandeira da UNIR foi alçada a meio mastro pela Chefe do Departamento de Ciências da Educação, e se voluntariou para acompanha-la Hiago de Logun Edé. Com as flores que foram energizadas no louvor à vida no início das Cirandas nas danças circulares ao pé do mastro. E a magia aconteceu... projetamos a mensagem gravada por Anita Freire[3]. E todos ficaram com os olhos, ouvidos e corações gratificados. Após vinte e quatro anos, os agradecimentos e a saudação a nossa UNIR.
O vídeo foi gravado em junho. Com o apoio da reitoria da UNIR à uma ideia de Jacinta Castelo Branco Correia (a “Jacinta”, do vídeo), preparamos tudo. Com o trabalho das equipes envolvidas o resultado ficou emocionante para uma noite linda... não havia calor, o céu estrelado, a UNIR Centro iluminada e Anita Freire relatando o testemunho de uma amizade entre Paulo Freire e Clodomir de Moraes e como a UNIR menina, com 15 anos em 1997, foi contagiada pela presença dos dois educadores. E, ao encerrar o vídeo, este foi o momento de Jacinta. Uma técnica que tem anos dedicados a UNIR, esposa de Clodomir de Moraes, que nos fez sorrir com os detalhes deste evento memorável e do quanto Paulo Freire tem importância... falou de roupas, de Cuba, de escova de dentes e de amizade.
Seguimos com o representante do SINTERO que falou para nós deste encantamento e do quanto aquilo que vivemos é o suficiente para calar a alma! A mensagem do Professor aposentado do Campus de Rolim de Moura, Dirceu Bertiol, foi mencionada a todos e todas presentes, com o link disponibilizado em aplicativo, porque não rodou na hora. Foi ele que como Secretário de Estado da Educação em 1997, viabilizou que todos aqueles e aquelas que desejassem estar no evento em Porto Velho pudessem estar. (Você pode vê-lo aqui e reforço a importância: https://drive.google.com/file/d/1XEMC8acgCj8ztzGSgShoyh_52Rslhi0l/view?usp=sharing).
Cantamos os parabéns. Apagamos velinhas e fomos comer o maravilhoso vatapá feitos pelos estudantes, beliscar as contribuições da mesa freireana... e, aos poucos, as pessoas iam saindo...
Foi então que um outro momento mágico, presenciado por muito poucos, também aconteceu! Começaram a se aproximar do local o pessoal em situação de rua; e se aproximavam (ou falavam de longe) perguntando se podiam comer “um pouquinho”... e fomos, eu e Jacinta, servindo-os... Também compartilhamos as iguarias com os policiais do trânsito... um deles lembrou que o filho adorava chocolate e pegou uma fatia de bolo de chocolate e saíram, desobstruindo a rua.
Chegou, de bicicleta e preocupada com o atraso, a “bailarina da praça”, que também comeu conosco na mesa freireana e dançou... como fez para Paulo Freire há 24 anos atrás.
Então, para mim, o ápice em que nossa Universidade-verbo, celebrando Paulo Freire, recebeu como uma lição final do quanto a Universidade popular ainda tem muito a trilhar para ser construída: um morador de rua que pediu um pedaço de bolo e perguntou se [tinha] “tenho como levar para os meus amigos? ” E lhes demos o que tinha à mesa. O rapaz se emocionou, pegou o bolo, olhou para o prédio da UNIR e disse: “esse lugar é bonito”. E saiu com a comida.
Quem não disse que Paulo Freire não esteve conosco? Não precisa ter fé. Não precisa “professar”... precisa entender e praticar: que estar no mundo é estar em comunhão.
*Diretora do NCH. As ideias manifestadas no texto necessariamente não refletem a opinião de todo o NCH.
[1] https://www.youtube.com/watch?v=Ddc8dC-SXaI&list=PL6pGSWBqpNgTMejpLkomuT6PnDXsPa-kG&ab_channel=NCHDire%C3%A7%C3%A3o
[2] https://dancascirculares.com.br/o-que-sao-dancas-circulares/
[3] https://www.youtube.com/watch?v=TgKKNm8ptZc&list=PL6pGSWBqpNgTbytSf9XGEHMireSS_VO9O&ab_channel=NCHDire%C3%A7%C3%A3o
Fonte: Direção NCh