NCH - Núcleo de Ciências Humanas

O evento Mostra Adrian Cowell de Cinema Socioambiental: memória e resistência na reversão de décadas de destruição da Amazônia e de seus povos procura ampliar o alcance ao legado do cineasta Adrian Cowell, compartilhando seu olhar perscrutador que busca revelar os caminhos, os cenários e os sujeitos da devastação da Amazônia entre 1980 e 1990. Imersos na gênese desse processo de desfiguração em larga escala, podemos perceber os sequenciamentos e seus catalizadores, a partir da combinação de políticas migratórias e geopolíticas de  infraestrutura e de incorporação territorial, particularmente nos Estados de Rondônia e Acre. Em um contexto de limiar da Amazônia, em termos da sociobiodiversidade que a define, se torna crucial detalhar e decompor visões e universos cognitivos que sustentaram esses processos expropriatórios. Fica evidente que a devastação da Amazônia e de seus usos e imaginários sociais (genocídios e ecocídios) vincula-se à devastação da capacidade de percepção e inteligibilidade (epistemicídios) do território esvaziado e recriado. Ao expormos os nexos entre a saga destrutiva registrada por Cowell com as sagas subsequentes, com o avanço brutal da fronteira agrícola, hidrelétrica e mineral, intensificado nos últimos anos, é posta em questão a legitimidade deste modelo socioeconômico neoextrativista e segregador. Desta forma, prepara-se o terreno político e simbólico para reparações, reversões e transições, tendo como protagonistas os povos tradicionais e as forças populares no campo e na cidade em defesa do direito ao reconhecimento, do direito à terra, à cidade e ao território.

O cineasta inglês Adrian Cowell (1934-2011) em sua obra dedicada à Amazônia e seus povos, colocou em xeque o próprio significado do desenvolvimento ao reter provas da barbárie, da violência extrema, física e simbólica, praticadas sob sua justificativa. Em um momento de reconstrução da chamada reconstrução da governança socioambiental da Amazônia, particularmente de sua porção sudoeste sob ataque intensivo, se torna fundamental fazer um balanço dessas décadas e projetar além das telas como devem ser as décadas que virão.

Entre 10 e 14 de julho de 2023, na cidade de Porto Velho, no Auditório do Ministério Público do Trabalho, ocorrerão sessões diárias, em que serão cotejados filmes emblemáticos de Adrian Cowell e produções fílmicas contemporâneas, com destaque para aquelas produzidas em conjunto por movimentos sociais, povos tradicionais e, organizações sociais e ambientais. Junto com a exibição de filmes, haverá uma mesa de debate sobre os nexos entre os filmes exibidos que convergem para o tema de cada sessão. Após falas de contextualização das obras, os filmes serão exibidos em sequência e ao final abre-se o debate coletivo.